Dois jogos bastam
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Dependendo de fatores tão incertos como o resultado do sorteio, a pressão da estreia ou a combinação de resultados, passar pela fase de grupos de uma Copa do Mundo da FIFA pode ser tarefa das mais complicadas, por mais forte e tradicional que seja uma equipe. Até campeões mundiais, em plena defesa do titulo, já foram barrados antes de chegar à segunda fase do Mundial – casos da Itália em 1950, o Brasil em 1966 e a França em 2002.

Nada disso, porém, parece significar muito para a Seleção Brasileira. Não nos últimos 28 anos, em todo caso. Com a vitória por 3 a 1 sobre a Costa do Marfim neste domingo, no Soccer City, a equipe comandada por Dunga assegurou com uma rodada de antecedência sua vaga nas oitavas de final da África do Sul 2010. Acontece que, no caso do Brasil, garantir a classificação sem precisar contar com a última partida da fase de grupos não é exatamente digno de ressalva: esta foi nada menos do que a oitava vez consecutiva que os brasileiros realizaram o feito. A última vez que o país chegou à rodada final com risco de eliminação – e também a última em que não liderou seu grupo - foi na Argentina 1978, quando conseguiu um 1 x 0 tenso diante da Áustria após dois empates nas rodadas iniciais diante de Suécia e Espanha.

“Claro que o fato de termos garantido a classificação dá tranquilidade. É uma pressão que tiramos dos nossos ombros e algo que muda a cara da partida contra Portugal”, diz o capitão brasileiro Lúcio. “Mas classificar-se com antecedência não depende apenas dos nossos resultados. Então, o mais importante é que estamos jogando bem e que, da primeira para a segunda partida, melhoramos muito”, completa ele.

Trabalho de grupo
De fato, a sequência de conquistas de vaga antecipadas tem a ver com a superioridade que os brasileiro mostram diante dos rivais de grupo, mas também do equilíbrio entre esses nos primeiros jogos – sobretudo a partir de 1994, quando foram adotados os três pontos por vitória, o que aumentou as chances de classificação antecipada para quem vencesse seus dois primeiros jogos, bastando para isso que houvesse algum empate na chave.

Nos Estados Unidos 1994, o Brasil começou com vitórias por 2 a 0 sobre Rússia e 3 a 0 sobre Camarões. Como suecos e camaroneses haviam empatado na estreia do Grupo A, a vaga nas oitavas logo foi para os brasileiros. Quatro anos depois, com vitórias sobre Escócia (2 x 1) e Marrocos (3 x 0) combinadas a empates nos outros jogos das primeiras rodadas, a Seleção novamente chegou à última rodada com folga – tanto que perdeu para a Noruega (2 x 1) e ainda assim passou como líder do grupo. Aquela partida em Marselha, aliás, foi a última dos brasileiros numa fase de grupos da Copa que não terminou em vitória da Amarelinha.

Nos dois últimos Mundiais – um em que o Brasil saiu como campeão e outro em que teve desempenho decepcionante na partida de quartas de final diante da França – a Seleção manteve sua campanha na primeira fase impecável: desde a estreia diante da Turquia na Coreia do Sul/Japão 2002 até os 3 a 1 de domingo diante dos marfinenses, os pentacampeões somam oito vitórias seguidas, com 23 gols a favor e seis contra.

É esse recorde que será colocado à prova diante de Portugal no dia 25, em Durban, na partida que decide o Grupo G. Quer dizer: isso, entre outras coisas. “Vamos continuar no mesmo ritmo e na mesma seriedade para conseguirmos a primeira posição da chave”, assegura o zagueiro Juan. “A liderança é  algo importante, porque você enfrenta um adversário com campanha inferior. Isso para não falar do aspecto moral, para chegar na fase eliminatória com tudo.”

Boas campanhas e vaga antecipada ajudam, embora claramente não sejam garantia de nada quando começam os mata-matas. Mas uma coisa é certa: no próximo sorteio dos grupos da Copa do Mundo da FIFA, se houver uma equipe em cuja chave ninguém vai gostar de cair, vai ser o Brasil. Nem que seja só por respeito ao retrospecto.