A 99 dias do pontapé inicial da Copa do Mundo da FIFA 2010, a última grande rodada de amistosos internacionais mostrou que as 27 seleções classificadas que entraram em campo nesta quarta-feira estão em estágios de preparação bem diferentes.

Enquanto a Espanha confirmou a condição de favorita ao derrotar a França por 2 a 0 em Paris, outros selecionados seguem trabalhando na preparação para o Mundial. A vitória da Argentina sobre a Alemanha por 1 a 0  e o empate sem gols entre Itália e Camarões ilustram que os problemas enfrentados pelos treinadores são distintos e, certamente, seria arriscado tirar conclusões precipitadas.

Somente o Chile e a Coreia do Norte não participaram da última rodada de testes, devido ao terremoto que abalou o país sul-americano no último fim de semana. Austrália e Japão disputaram partidas oficiais, válidas pelas eliminatórias para a Copa Asiática de Seleções 2011. Já o Paraguai optou por fazer um amistoso com o Athletic Bilbao, vencido pelo selecionado por 3 a 1.

No cômputo final da quarta-feira, 12 classificados venceram, 12 perderam e três empataram. Dez países não marcaram nenhum gol.

Os favoritos
"Tivemos a impressão de que tudo estava sob controle do começo ao fim", analisou com tranquilidade o técnico da Espanha, Vicente Del Bosque, após a convincente vitória dos campeões europeus sobre os vice-campeões mundiais. O escrete ibérico está com a confiança em alta e joga um futebol técnico e eficaz, trabalhado ao longo de vários meses de convívio entre os atletas. "O futebol é frágil, nos dois sentidos. O importante é a Copa do Mundo", respondeu o meio-campista da França, Jérémy Toulalan, reconhecendo que "resta um pouco de trabalho a fazer."

Talvez ainda sem o brilho que se costuma associar à sua imagem, mas fazendo o seu trabalho com eficiência, o Brasil chegou à terceira vitória seguida contra os irlandeses. "No essencial, a lista está na cabeça e não quero desorganizar as coisas. Faz três anos e meio que trabalhamos com esse grupo. Cada um teve a sua chance", explicou Dunga.

As potências
Diego Maradona parece ter encontrado na partida contra os alemães a referência que buscava. Após uma campanha complicada nas eliminatórias, a Argentina voltou a mostrar um futebol competitivo sob a batuta de Juan Sebastián Verón. Aos 35 anos, o meia vive uma fase excelente. O técnico também fez elogios a Lionel Messi, que aceitou jogar de maneira diferente da que apresenta no Barcelona para melhor servir um elenco que começa a ganhar forma. Já a Alemanha, que encerrou as eliminatórias invicta, até pode encarar a derrota como um acidente de percurso, mas ainda precisa resolver o problema do setor ofensivo. Apesar do retorno do brasileiro naturalizado alemão Cacau, o ataque germânico pecou pela falta de objetividade.

A Itália nunca foi especialmente fanática por jogos preparatórios, sobretudo quando precisa entrar em campo sem a presença de sete titulares. No amistoso com Camarões disputado em Mônaco, uma Azzurra sem padrão de jogo quase sucumbiu ao futebol envolvente apresentado pela surpreendente seleção camaronesa. "Little Italy", avaliou a Gazzetta dello Sport. Mas o técnico Marcello Lippi não está preocupado. Ele aproveitou a ocasião para observar o vigoroso zagueiro Leonardo Bonucci e o meia Andrea Cossu.

A experiência de Fabio Capello permitiu que a Inglaterra virasse o jogo contra o Egito, que foi para o intervalo em vantagem no marcador. A entrada de Peter Crouch, autor de dois gols, mudou a cara da partida e o atacante agora é sério candidato a uma vaga na lista dos 23 convocados.

Os incansáveis
Por outro lado, algumas nações mais distantes dos holofotes já estão prontas para o Mundial. É o caso do Uruguai, que deixou ótima impressão ao vencer a Suíça por 3 a 1 em jogo realizado na Europa. A eficácia ofensiva da Celeste Olímpica pode ser atribuída em parte ao atacante Luis Suárez, que já marcou 38 gols em 36 partidas com o Ajax holandês na temporada e forma uma dupla de luxo com Diego Forlán.

Comemorando a volta do meia Zdravko Kuzmanovic, a Sérvia goleou a Argélia por 3 a 0 em Argel e confirmou a boa campanha realizada nas eliminatórias. Atenção também para a Coreia do Sul, que soube aproveitar as bolas paradas na vitória de 2 a 0 sobre a Costa do Marfim. O segundo adversário brasileiro no Grupo G da Copa do Mundo da FIFA continua dando provas de desorganização, apesar do talento dos seus atacantes.

Já a Holanda do técnico Bert van Marwijk contou com a velocidade de Wesley Sneijder para abrir espaço na sólida defesa dos Estados Unidos e vencer por 2 a 1. Primeira seleção europeia a garantir vaga no Mundial, a Laranja Mecânica mostrou que está pronta para chegar com força e tranquilidade à África do Sul.

As decepções
A Grécia mostrou uma inquietante fragilidade defensiva na derrota de 2 a 0 diante do Senegal, que não vai à Copa do Mundo da FIFA. A Eslováquia, que conquistou a vaga no Mundial de maneira brilhante, mostrou pouco e perdeu em casa para a Noruega por 1 a 0. O mesmo vale para a Dinamarca, derrotada na Áustria por 2 a 1. Já Gana provocou surpresa ao perder de virada para a Bósnia e Herzegovina: 2 a 1 em Sarajevo.

A África do Sul, por sua vez, começa a causar preocupação. Embora sem contar com os seus melhores jogadores, que atuam na Europa, o país precisou se contentar com o empate em 1 a 1 com a modesta Namíbia. "Tudo isso faz parte de um longo processo", afirmou o técnico Carlos Alberto Parreira para tentar acalmar os ânimos dos anfitriões.

O problema é que o tempo está correndo e agora faltam apenas 98 dias para a festa máxima do futebol mundial. Mais do que nunca, a hora é de muito trabalho para acertar os ponteiros.